João 11.1 - 44
Viver no caminho de Jesus e com Jesus no caminho não isenta o discípulo do sofrimento. O sofrimento está presente na vida cristã. Se não nos damos bem com o sofrimento, imagine com a morte. A morte, na linguagem Paulina é a paga e o aguilhão do pecado. O sofrimento é como um rio que, se não for interrompido o curso, deságua na morte. E a morte se não for interrompida, também, deságua no sofrimento. Morte e sofrimento são irmãos na existência humana.
Esses processos – morte e sofrimento – só podem ser interrompidos por Aquele que disse: Eu sou a ressurreição e a vida. Isso é amor, graça e milagre. O problema é que a ressurreição que interrompe a morte e a vida que interrompe o sofrimento acontecem no tempo de Deus. Na agenda soberana de Jesus. E, no processo, lágrimas e questionamentos são inevitáveis.
Amor e demora
De modo geral, não lidamos bem com o sofrimento e nem com a demora do amor de Deus em cessar a dor. Nesse processo amor e demora aparentemente são antagônicos. É só na aparência, porque na essência o amor está no sofrimento e o sofrimento está no amor. Só no Evangelho é que essa dualidade é casada e discernida pelo discípulo de Jesus.
No sofrimento quem nos ama manda cartas pra Jesus. Cartas dizendo que aqueles a quem Ele ama podem morrer a qualquer momento. Essas cartas podem até mesmo não trazer o amor que faz milagres na hora que queremos, mas demonstram o amor humano. O amor de gente que tem prazer em interceder pelos que estão em sofrimento. Esse amor de gente é vida no caminho.
No sofrimento, o amor que faz milagres demora. Não demora porque não ama. Demora justamente porque ama. É por amor do que está em sofrimento que a decisão de demorar acontece. Não é fácil de entender! Mas, também, não é pra entender, é pra viver. Viver no Caminho. Pois quando o Caminho chega tudo faz sentido.
Agora, saber do amor não cessa o sofrimento, muito menos a morte, o que acaba com tudo isso é a presença de Jesus e o seu amor. Mediada pela fé. Porque se creres, verás a glória de Deus. João 11.40.
Reviver e ressuscitar
Quem se propõe a ter a vida no caminho precisa entender a diferença entre reviver e ressuscitar. Apesar de dizermos que Lázaro foi ressuscitado, não foi! O homem que estava morto, reviveu. Não ressuscitou! Porque se tivesse ressuscitado nunca mais morreria. Lázaro reviveu para morrer novamente.
A ressurreição tem a ver com o último dia. Quando aquele que recebeu vida no caminho vai ressuscitar para todo o sempre. E vai para aquele lugar onde não há sofrimento e morte. Jesus foi o primeiro a ressuscitar para nunca mais morrer. Na teologia paulina, Jesus é “as primícias dos que ressuscitaram”. Jesus ressuscitou, foi assunto aos céus, está à destra de Deus e voltará para a ressurreição do último dia dos caminhantes da verdade.
Reviver tem a ver com o milagre de devolver à vida a quem está morto. Mortos que são revividos pela palavra da vida de Jesus, voltam a morrer, mas serão ressuscitados no último dia. Foi o que aconteceu com Lázaro.
Jesus disse: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá;
E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto? Jesus está dizendo justamente o que faria com Lázaro. O Reviveria e o ressuscitaria. Pois aquele que morrer em Jesus, não morre a morte eterna, mas vive eternamente.
É assim a vida no caminho!
Morte e milagre
Lázaro provavelmente chorou, Marta chorou, Maria chorou, os amigos choraram. Até mesmo Jesus chorou. É inevitável que o sofrimento e a morte não gerem choro. De modo geral, além de a morte constranger ao choro, a morte esconde quem amamos da vida e dos nossos olhos.
Jesus quer ver o morto e a morte. Quer ver porque Ele é o único que vai vencê-la. Os elementos estão postos para, de alguma maneira, bloquear o que Jesus vai fazer: o tempo, a caverna, a pedra, as faixas, a decomposição, a incredulidade e a morte. Mas nada pode deter a Ressurreição e a vida.
A morte e o sofrimento não podem resistir a intimidade e a gratidão que o Filho tem com o Pai. Muito menos o poder de sua palavra. Quando Jesus fala, a morte devolve o seu morto e Jesus o devolve à vida.
Choro e morte precedem milagre. Jesus faz assim para crermos e vermos a glória de Deus. Assim faz por amor de nós. Amor e demora, reviver e ressuscitar, morte e vida são elementos indispensáveis na construção da espiritualidade dos que se propõe viver na estrada do que dá a vida no caminho. Assim, vida no caminho é como Jesus diz: Desligai-o, e deixai-o ir.
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