Um Caminho Pra Andar

O CONVITE AO CAMINHO.

09:12Apenas Evangelho

Leiam João 1: 35-51 


















por Sandro VS 


Nossa jornada começou, pois, entre tantos caminhos sugeridos para se chegar a um destino agradável, foi manifestado o verdadeiro caminho destinado àqueles que ouvem e, por si mesmos, aceitam seu convite.

Em nossa carreira existencial, não são poucas as vezes que nos encontramos em duvida sobre o caminho que devemos tomar e, depois de escolhido o caminho, se esta foi a melhor direção para nossos passos.

Por isso, quase que geralmente, aconselhamos a nós mesmos por meio de exemplos em nossa volta, ou seja, avaliamos o caminho investigando outros que se aventuraram no mesmo rumo antes de nós. Ouvimos historias, as averiguamos, pesamos os resultados para então, ainda com muito receio, colocar nossos pés no trajeto pretendido.

Neste texto o caminho se manifesta como o próprio guia e companheiro de jornada, isto é, o caminho é o próprio modelo e resultado de caminhada. Em outras palavras, temos aqui um caminho que não só nos conduz a um destino agradável, mas que também se relaciona conosco durante a jornada.

Está curioso para saber onde isso vai dar?

Vem e vê.

APONTANDO O CAMINHO ENQUANTO SE ANDA NELE.

Neste capitulo do Evangelho de João, por duas vezes, o evangelista escreve que Jesus passou por João Batista, uma vez em direção a ele (Jo. 1:29) e outra vez em frente a ele (1: 35-36).

João Batista diz que não conhecia o Cristo, mas que era sua função manifestá-lo (Jo. 1:31), ou seja, ele abriu o caminho para que o caminho se manifestasse, simplesmente por ter confiando que este era o único caminho que tinha a percorrer.

Assim, quando lemos João Batista nas paginas dos Evangelhos o que nos vem à mente é uma espécie de guia turístico. Parece-nos alguém que está sempre à beira do caminho para apresentar as belezas do local em que se está passando. Parece conhecer o caminho melhor que qualquer outro sabendo onde ele começa e onde ele termina, anunciando seus detalhes como quem o percorreu inúmeras vezes.

Mas, mesmo se apresentando como um caminhante assíduo do percurso, se você quiser encontrá-lo deve procurá-lo no inicio do trajeto, como que assentado à sua margem.

Outro detalhe atraente é que nas duas vezes que Jesus passa por João Batista, o evangelista João especifica que foi “no dia seguinte”, o que indica que em todas as vezes que alguém procurar informações sobre o caminho o encontrará lá, dia após dia, isto é, todas as vezes que alguém procurar, no Evangelho, o início da jornada proposta pelo Cristo terá, obrigatoriamente, se deparar com ele.

E o que se entende deste encontro com João Batista?

O mesmo que dois seguidores seus entenderam, ou seja, que enfim o caminho de volta para Deus foi revelado. “Este é o cordeiro de Deus” é o que ele diz acerca de Jesus para dois que estavam com ele. Não nos é revelado à razão, o anseio destes dois rapazes para fazê-los seguidores dele, mas uma coisa fica clara, nunca foi da vontade de João Batista mantê-los consigo.

Vemos então qual deve ser o objetivo de todo o que se propõe a anunciar o caminho: TORNAR TODOS QUANTOS O OUVIREM, DISCÍPULOS DE JESUS CRISTO. João Batista ensina que todo aquele que reconhece o caminho deve apontá-lo para além de si mesmo, oferecendo a todos os que se acheguem, uma jornada.

CONHECENDO O CAMINHO POR SI MESMO.

É-nos estranho que os dois discípulos de João Batista sigam Jesus sem se apresentarem primeiro, mas talvez um traço da cultura oriental nos explique isso melhor.

Mestres, neste contexto, viviam rodeados de pessoas e entre aqueles que vinham atrás de respostas prontas e outros que permaneciam apenas por curiosidade, havia os que poderíamos chamar de discípulos em potencial. Neste contexto a intenção do discipulado deve ser uma só, isto é, assimilar os ensinos de seu mestre praticando tais ensinos assim como o mestre, em resumo, o discípulo aprende como se faz, fazendo.

Os discípulos surgiam conforme o convite do mestre, pois ele evitava os curiosos e os que vinham apenas para discutir, assim, a pergunta de Jesus: “que desejais?” denota a sua aceitação aos dois. A réplica: “onde te hospedas?” evidência nos dois um desejo de conhecimento que não seria saciado em curto espaço de tempo, ou seja, era necessária uma conversa mais longa e com mais privacidade para poderem expor tudo o que estava em seus corações.

“Vinde e vereis” é a resposta de Jesus aos que iniciam a jornada no caminho.

Essa é a resposta de quem não apenas oferece um caminho, mas que também se oferece como caminho aos que procuram saciar seus anseios. Assim, todos os que optam por conhecer por si mesmos este caminho, outrora oculto, mas agora revelado, receberão do próprio caminho o consentimento.

LEVANDO O CAMINHO AS PESSOAS AO MESMO TEMPO EM QUE LEVA AS PESSOAS AO CAMINHO.

João, o evangelista, identifica um dos dois que passaram a seguir Jesus. André é o primeiro dos discípulos e, futuramente, dos apóstolos a anunciar o caminho depois de João Batista.

O primeiro que ele encontra é seu irmão que aqui é chamado de Simão Pedro e a novidade nos seus lábios já vem carregada de entendimento: “Achamos o Messias (que significa Cristo)”, ou seja, a longa conversa com aquele que começou chamando de mestre, foi suficiente para vê-lo como o Cristo, e mais, o fez entender que o caminho havia se revelado não só como o proposto pelas escrituras no Antigo Testamento, mas, também, como o vivo e encarnado agora na história.

André se caracteriza como esse caminhante que sempre apresentava e oferecia a jornada a alguém. Além deste episódio, no qual apresenta Pedro a Jesus, há outros dois, um descrito em João 6:8-9 onde apresenta a Jesus o menino que tinha cinco pães e dois peixinhos, e outro descrito em João 12:22, em que apresenta a Jesus os gregos que perguntavam por ele.

Portanto, parece que a grande alegria de André era trazer peregrinos ao novo caminho enquanto propunha uma nova jornada a estes caminhantes. Assim, percebe-se nele o efeito de quem entrou no caminho e passou a se relacionar com ele, isto é, compartilhar a jornada com outros.

A INTIMAÇÃO E A INTIMIDADE DO CAMINHO.

Segundo João, Jesus parece começar sua peregrinação a partir daqui, pois decide sair de onde estava e seguir caminho.

Em meio ao trajeto acontece um novo encontro, mas agora um pouco diferente. Filipe, natural da mesma cidade de André e Pedro, recebe uma intimação ao caminho e a solicitação, “segue-me”, parece um eco da decisão de Jesus a ir para a Galileia, ou seja, da mesma maneira em que o Cristo se decide imutavelmente a se expor como o caminho, convoca firmemente seus viajantes à jornada.

O porquê Filipe se prontifica a atender imediatamente a intimação não nos é revelado, mas, mais uma vez, o resultado é impactante, pois, ao encontrar outro a beira da estrada, anuncia o caminho como se já estivesse há muito tempo habituado com ele. Este conhecimento acerca do Cristo engloba as duas fontes do Antigo Testamento que apontam para ele: a Lei de Moisés e os Profetas, portanto Filipe se mostra tanto alguém voluntarioso quanto consciente de sua decisão.

Por outro lado temos Natanael, o convidado pelo agora transeunte do caminho, Filipe. Ele se mostra conhecedor das promessas acerca do Cristo tanto quanto seu amigo Filipe e logo argumenta que não havia nada no Antigo Testamento que apontasse que o escolhido de Deus viria de Nazaré.

O contra-argumento de Filipe não consiste na exposição de textos, mas apenas na insistência prática do convite: “Vem e vê!”, pois se o caminho é dinâmico e relacional ele se deve ser assumido tanto pela consciência, quanto pelos sentidos.

Jesus se apresenta como o caminho que, antes de se tornar conhecido pelos seus viajantes, é profundo conhecedor de cada um deles. A revelação a Natanael o faz entender rapidamente isso. Jesus o vê se aproximar e faz um elogio que, saindo de sua boca, transforma-se em uma constatação: “Este é um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento!”, o que evoca em Natanael um espanto: “De onde me conheces?”.

O que se segue então é a intimidade que o caminho propõe aos seus viajantes, ou seja, a resposta de Jesus mostra que existe um conhecimento prévio que deseja se revelar como uma profunda pessoalidade entre os envolvidos na jornada, pois o que surpreende Natanael não foi tanto que Jesus o tivesse visto debaixo da figueira, mas, sim, o fato de que Jesus tivesse lido os anseios de seu coração, portanto, não havia outra coisa a fazer senão aceitar o convite dizendo: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel”.

O convite ao caminho é pessoal e vívido, feito por meio de uma revelação Daquele que encarna tudo quanto propõe na jornada, assim, na mesma medida em que a viajem é intrigante, tornar-se-á surpreendente, como expressa, de modo apropriado, um hino antigo: “Quem se importa com a jornada quando o caminho conduz ao lar?”.

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