Por volta da hora nona, Jesus bradou em alta voz: Eli, Eli, lamá sabactani? Isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?
Mateus 27:46
por Sandro VS
As escrituras nunca esconderam que a maior consequência do pecado é a separação entre Deus e o homem.
As palavras do profeta Isaías: “A mão do Senhor não está encolhida para que não possa salvar; nem o seu ouvido está surdo, para que não possa ouvir. Mas as vossas maldades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados esconderam o seu rosto de vós, de modo que não vos ouve” (Is. 59:1-2), e as do apóstolo Paulo: “Assim, por haverem rejeitado o conhecimento de Deus, foram entregues pelo próprio Deus a uma mentalidade condenável para fazerem coisas que não convêm” (Rm. 1:28), revelam, não só esta separação como a gravidade maior do pecado, mas também que todo o nascido em pecado vêm ao mundo com este agravante.
Pois bem.
Jesus nunca pecou e por isso nunca vivenciou um momento sequer de sua trajetória terrestre separado do Pai, ao contrário, afirmou mais de uma vez que Ele e o Pai sempre foram um.
Mas ao assumir nosso pecado e, assim, tornar-se pecado por nós, foi abandonado pelo Pai!
Sim!
Pois como poderia um Deus santo olhar com favor para alguém que, mesmo sendo seu Filho, tenha se tornado em pecado?
Muitos sugerem que as três horas de densas trevas (do meio-dia às três da tarde) simbolizaram este julgamento pelo qual Jesus teve de passar, isto é, o abandono por parte do Pai ao ter Ele assumido a maldição de nossos pecados.
Mas existe algo muito sério em tudo isto e consiste em que:
Se todo o que é nascido em pecado, nasce separado de Deus, o fato de Jesus nunca ter pecado, exatamente porque não nasceu em tal condição, ou seja, de pecador, implica afirmar que ambos nunca viveram longe um do outro, mas implica dizer também que, na cruz, ao assumir a posição de pecador, Jesus decidiu separar-se do Pai, e o Pai, por sua vez, teve de abandoná-lo por ter Ele assumido tal posição.
A decisão do Filho em se tornar pecado resultou na decisão do Pai em abandoná-lo como consequência de tal ato.
Não quero forçar o texto, mas sempre me questionei sobre o porquê de Jesus, neste momento de angustia e tendo afirmado sempre ser um com o Pai, resolver chamá-lo de Deus.
Em uma cruz, assumindo a consequência de algo que nunca foi, e por isso, abandonado por pelo menos três horas em plena escuridão, fez com que o Filho não apelasse para o Pai, mas fez com que apelasse para Deus!
Assim, na cruz, Deus foi abandonado por Deus na escuridão, para que, a partir desta cruz, Deus revelasse Deus em plena luz.
É APENAS no EVANGELHO que podemos chamar Deus de Pai simplesmente porque o Filho, na escuridão do seu abandono, o chamou de Deus!
Soli Deo Glória!
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