Leiam Marcos 6: 30-44
por Sandro VS
Estes dias estava "zapeando" na televisão até parar em um destes programas que oferecem milagres e dão garantia do serviço. Como fazia tempo que não assistia fiquei assustado com a quantidade enorme de pessoas querendo testemunhar o que haviam recebido. Todos traziam em uma mão exames médicos comprovando a enfermidade, e, na outra mão, exames atualizados comprovando a cura. Sucedendo-se a isso, a música subia e o homem que realizava os milagres alardeava orgulhosamente a seguinte expressão: "o Brasil precisa deste ministério!".
Então este texto me veio à mente.
Os discípulos regressam de sua primeira viagem missionária e, empolgados, relatam a Jesus tudo o que fizeram e ensinaram. Em outro texto, no Evangelho de Lucas, quando Jesus envia os setenta e estes voltam de sua missão, existe uma ênfase nos seus relatos: "Senhor até os demônios se submetem a nós em teu nome", ou seja, podemos deduzir o mesmo entusiasmo dos doze aqui.
Mas Jesus quer mostrar que todo o milagre, para beneficiar os envolvidos, isto é, tanto os que recebem, quanto quem é usado como seu canal, carrega em si um mistério e uma calmaria que lhe são peculiares.
Jesus chama os doze a um lugar deserto para descansar de sua missão, mas é seguido por uma multidão que Marcos identifica como "ovelhas que não tem pastor", e, movido por compaixão, Jesus começou a ensinar muitas coisas. O dia se declina e a fome bate. Os discípulos sugerem a Jesus que despeça a multidão para que encontrem ainda lugar onde comer e é exatamente aqui que o milagre começa. Sem "jogo de luz ou gelo seco" Jesus pergunta o que eles têm em mãos para alimentar a multidão e a resposta é "cinco pães e dois peixinhos". O mestre manda que todos sentem na relva em grupos de cem e cinquenta, toma os pães e os peixes nas mãos, ergue os olhos aos céus, agradece e então começa a partir os pães e os peixes e entregá-los aos discípulos para que estes distribuíssem a multidão.
E é exatamente aqui que o narrador se cala. Um milagre silencioso, pois, diante do sobrenatural nenhum diálogo se faz necessário. Podemos dizer que o milagre está muito mais implícito do que expresso e, portanto, não há como saber o momento exato da multiplicação, pois nada é declarado. Jesus não sai gritando, chorando ou entrevistando alguém, e mais, não pede para que um dos discípulos faça isto. Tudo acontece de maneira serena, calma e tranquila.
Gosto de me colocar como uma das ultimas pessoas, do ultimo grupo, sentado e sendo servido. Olhando Jesus de longe organizando a distribuição e pensando comigo mesmo:
"Onde foi que estes homens encontraram tanto pão a esta hora, está até sobrando! E como pescaram tanto peixe em tão pouco tempo?"
Não sabendo que o alimento esta sendo multiplicado pelo Pão da Vida, e tudo feito sem espetáculo!
É APENAS no EVANGELHO que encontramos o Cristo que é maior que os milagres, os milagres que são só milagres, e pessoas alvos de milagres que no máximo repetem o jargão cinematográfico que diz: "Não sei, só sei que foi assim!".
Soli Deo Glória!
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