Quando o apóstolo vê todo este processo tentando subverter o ensino e a verdade do Evangelho libertador entre os cristãos gálatas, escreve esta verdadeira apologia à cruz e à GRAÇA do Evangelho. 

Neste texto Paulo trata, mais especificamente, da insistência dos cristãos judaizantes para que os gálatas observassem e cumprissem a Lei judaica no que diz respeito à circuncisão. A circuncisão era um ritual judaico que marcava tanto a aliança entre Deus e o homem judeu quanto à inserção deste no povo eleito de Israel, assim quando exigiam este cumprimento da Lei por parte dos gálatas estes judeus estavam sugerindo a anulação da cruz de Cristo e, consequentemente, caindo da GRAÇA que recorre dela, pois na posição de Paulo o caminho da GRAÇA e o caminho da Lei se excluem mutuamente. 

Partindo deste princípio, Paulo fala do único mandamento estabelecido tanto para judeus quanto para gentios a partir da GRAÇA da cruz, o amor. O amor, para o apóstolo, é o único caminho proposto pelo Espírito Santo para que o cristão viva para Deus, pois quanto mais o cristão anda no Espírito mais ama, e quanto mais ele ama mais aquieta os desejos de sua natureza pecaminosa. 

Uma pergunta que possivelmente os cristãos judaizantes e os gálatas fariam seria: 

“Se não é a circuncisão proposta pela lei à garantia do cristianismo e da aliança com Cristo como saber quem é cristão?” 

Paulo então começa a falar de uma conduta que guiava todos os homens desde Adão, uma predisposição natural de todo aquele que nasce de uma mulher, ou seja, atos que todo homem pratica naturalmente quando limitado aos seus próprios recursos, pois quando, limitado a si mesmo, o que todo o homem produz é pecado. 

Portanto, a partir da cruz, o que evidenciaria o cristão seria uma nova conduta. Uma conduta que não seria inerente a ele, isto é, não seria fruto de sua humanidade natural, mas que seria produzida nele, sobrenaturalmente, pelo Espírito. Assim este fruto nada mais seria do que a soma de todas as qualidades cristãs e, quando exercidas, evidenciariam alguém que estava em constante vivência no Espírito. 

Assim, o homem natural só tem a capacidade de viver até onde seus olhos enxergam, por isso, seu relacionamento, quer com Deus, quer consigo mesmo ou com o próximo é falho, mas o eleito que nasceu de Deus tem sua visão ampliada e, assim, reconhece o seu potencial para pecar, mas em Cristo e pelo Espírito que o habita, tem, sobrenaturalmente, os seus desejos purificados, portanto em Cristo, pelo Espírito e para Deus procura todos os dias aplacar sua natureza pecaminosa para viver, pelo Espírito, a natureza de Cristo. 

O teólogo John Stott resume isto da seguinte maneira: 

“A verdadeira prova de uma atuação profunda do Espírito de Deus em algum ser humano não são suas experiências subjetivas e emocionais, nem sinais espetaculares, mas qualidades morais, como Cristo as teve”. 

Portanto, se você não consegue viver o amor de Deus, não desfruta da Sua alegria em sua vida, não se sente apaziguado com Ele, não tem paciência com os demais, não consegue ser benigno e muito menos bondoso com seu semelhante, não é digno de confiança, não é fácil no trato e por isso não é considerado por ninguém, e por fim não consegue dominar sua língua, seus desejos e pensamentos é porque você está procurando estas qualidades no lugar errado. Por isso abandone hoje todas as leis religiosas que apontam o erro, mas que não tem poder de corrigí-los e abandone também toda a ideia de autoajuda que por mais bem elaborada que possa ser não pode realizar o bem que propõe porque se baseia em uma natureza que não busca bem algum. 

Assim sendo, apenas creia que isto não vem de você e, por isso mesmo, é que todas estas coisas são possíveis, pois todas elas são efetuadas em nós em Cristo, pelo Espírito e para Deus.